30.4.10

Casamento como instituição social

Na Europa o casamento era, para gregos e romanos, uma instituição social com carácter patriarcal. Estabelecia vínculo entre pessoas de sexos diferentes. A Igreja tornou-o sacramento; designou-o como matrimónio no desejo de dar outro estatuto à mãe de família. Até meados do séc. XX também era festa de familiares e amigos.
Com a alterações dos conceitos sociais depois da Revolução Francesa o Estado reconheceu o casamento civil paralelamente ao religioso. Pouco a pouco foram-se tornando obsoletos e substituídos por uniões de facto. Presentemente vários países aceitam o casamento entre pessoas do mesmo sexo.


Edward Coley Bourne-Jones (1833-1898)-'Cortejo nupcial de Psique'-óleo sobre tela-1900  Bruxelles-Musée Royaux des Beaux-Arts


Pieter Brueghel, velho-'banquete de casamento de camponeses'-óleo sobre madeira-ca1568  Wien-Kunsthistorisches Museum (Gemäldegalerie)


Albert Anker (1831-1910)-'cerimónia de casamento civil'-óleo sobre tela


Theodore Robinson-'Cortejo nupcial'-óleo sobre tela-1892  Chicago (Illinois)-Terra Foundation for American Art

29.4.10

Cristãos iconoclastas

A condição humana implica vários atropelos ao civismo e à cultura. A intolerância é um dos sintomas mais perturbadores do bom funcionamento duma sociedade dita civilizada. A religiosa é a mais indesculpável, principalmente entre cisões duma religião inicial. É o caso do Cristianismo onde vários movimentos viram nas imagens religiosas sinais de paganismo. Aconteceu com : Ortodoxos, Calvinistas, Luteranos, Anglicanos.

Anónimo-'Iconoclasta Bizantino'-iluminura-séc. IX  Chludov Psalter


Antoine Carot (1521-1599)-'Destruição das igrejas de Lyon por Calvinistas em 1662'
Óleo sobre tela


Anónimo-'Destruição dos relevos da igreja da São Martinho em Utrecht durante a Beeldenstorm Luterana'


Anónimo-'iconoclastas Anglicanos'-ilustração Foxe Book of Martyrs (1563 edition)

28.4.10

Atenas (capital cultural do mundo Ocidental)

Homenagearam a deusa Palas Atena ao dar o seu nome à cidade. Capital da Ática, importante cidade-Estado, nela floresceu o primeiro grande centro cultural e intelectual. Começa com Homero e Hesíodo (séc. VIII a C) e tem a sua 'Idade de ouro' nos séc. V-IV aC. Platão criou a sua Academia em 387v aC no bosque dedicado ao herói Academos. Nela ingressou Aristóteles, criador do pensamento lógico, aos 17 anos. Este, por sua vez, abriria o seu Liceu ou Peripatos, no bosque dedicado a Apolo Lykeios. Rafael Sânzio dedicou à Escola de Atenas o fresco existente no Palácio Apostólico da Cidade do Vaticano (Stanza della Segnatura)

Anónimo-'Academia de Platão'-mosaico-séc. I Napoli-Museo Archeologico Nazionale (proveniente de Pompeia-villa T. Settimius Sterphanus)

Ippolito Caffi (1809-1866)-'Partenon'-óleo sobre tela

Leo von Klenze (1784-1864)-'Acrópole e Areópago (Areus Pagus)'-óleo sobre tela-1846 München-Neue Pinakothek

Ippolito Caffi (1809-1866)-'Portão da Ágora em Atenas'-óleo sobre tela-1843

27.4.10

Harém (culturas poligâmicas)

A palavra harém parece ter chegado ao Ocidente através do vocábulo turco haram, cujo significado será 'local proibido'.
Em culturas antigas constituía o conjunto de mulheres associadas a matrimónios poligâmicos.
O gineceu grego, a avaliar pela leitura da queda de Tróia na Ilíada de Homero, parece estar ligado à escravidão sexual, como em muitos casos posteriores.
Desde o séc. VII aC que vários reis da Pérsia possuíam haréns dirigidos por eunucos ou castrados.
Na cultura muçulmana é a zona da casa destinada às numerosas mulheres dos senhores com capacidade financeira para as manter na ociosidade. Afirma-se que o harém do Grão-Mogol Akbar (1556-1605) incluía 5.000 mulheres.


Giovanni Antonio Guardi (1699-1760)-'Cena num harém'-óleo sobre tela  Madrid- Museo Thyssen Bornemisza


Jean-Léon Gérôme (1824-1904)-'Piscina de harém'-óleo sobre tela 


Juan Gimenez y Martin (1858-1901)-'Vida no harém' -óleo sobre tela  colecção particular


Leonid Kokov (1967-  )-'Viver num harém. Flores para o senhor'-óleo sobre tela

26.4.10

D. Quixote e Sancho Pança (por Miguel Cervantes, o 'manco do Lepanto')

Pequeno fidalgo de Castela-la Mancha, Alonso Quijano de seu nome, entrado em anos comentava as suas leituras de livros de cavalaria com o Padre e com o barbeiro da aldeia. Acreditava na sua veracidade e decidiu vive-las. Atribuiu-se  a personalidade de D. Quixote de la Mancha. Idealizou que uma camponesa conhecida era Dulcineia de Tobosa, fidalga de alta estirpe. Escolheu Sacho Pança, campónio anafado e baixo, para companheiro de aventuras. Na pele de cavaleiro andante, alto e magro, partiu para três incursões montado no Rocinante, cavalo velho e magro. A montada de Sancho era um burro cansado de anos de fome e serviço.
As peripécias vividas por ambos mostram o contraste entre a insanidade de D. Quixote e o realismo de Sancho.


Honoré Victorien Daumier (1808-1879)-'D. Quixote'-óleo sobre tela-1868 München-Neue Pinakothek


G. A. Harker-'D. Quixote contra oe moinhos de vento'-gravura


Edward Hopper (1882-1967)-'D. Quixote a cavalo'-óleo sobre tela-1902  New York-Whitney Museum


Pablo Picasso (1881-1973)-'D. Quixote e Sancho'-gravura in Les  Lettres Françaises 18-24 Aout (1955), pg. 12

25.4.10

Revoluções (ruptura pela força das armas)

Elementos revolucionários: agit-prop (liberdade); opressão-repressão na forma de fusilamentos (Maximiliano do México), bombardeamento (Guernica); politica (Laurentian sow'); miséria até para quem trabalha.
Almirante Cândido dos Reis na reunião dos Banhos de São Paulo (1910): «quando há revolução em Portugal metade aceita, metade borra-se».
Manchete de jornal Francês (1917) «Hoje, por ser Domingo, não há revolução em Portugal».


Eugène Ferdinand Victor Delacroix (1798-1863)-'A Liberdade guia o povo'-óleo sobre tela  Paris-Musée du Louvre
('3 dias goloriosos' 27-30.VII.1830, substituição de Carlos X por Luís Filipe, duque de Orleans)


Édouard Manet (1832-1883)-'Execução de Maximiliano de Habsburgo-Lorena'-óleo sobre tela-1867  Manheim-Städtische Kunsthalle


Pablo Diego ... Ruiz y Picasso (1881-1973)-'Guernica'-óleo sobre tela-1937  Madrid-Centro Nacional de Arte Reina Sofia


Giacomo Cerutti (1698-1767)-'Três pedintes'-óleo sobre tela-1736 Madrid-Museo Thyssen-Bornemisza 

Anónimo romano-'Laurentian sow'- escultura-séc. I-II  Copenhagen-NY Carlsberg Glyptothek

24.4.10

Bairro Latino (Quartier)

Tudo na vida tem tempo e idade apropriada. Hoje o Bairro Latino não tem para mim o encanto do meu tempo de estudante. Os colegas e amigos (Letícia, Margot, Chebanne) desapareceram. A nossa memória está longe de reter o essencial. Detesto reviver o passado porque aquilo de que no lembramos vem muito deformado. Óscar Wilde escreveu sobre essa deturpação «as nossas recordações nunca existiram tal como as recordamos». Alterou-se também o gosto. Ficaram na lembrança:  Jardim do Luxemburgo, rua Soufflot,  Panteão, livrarias e pissoir do Boul'Mich, desordens (bagarre) de sábado à tarde, café de la gare, Museu da Idade Média (Cluny), Escola Normal Superior (Departamento de Química) na rua Lhomond, desaparecido restaurante 'Zero de conduite' na rua Monsieur le Prince.

Émile Jean Horace Vernet (1789-1862)-'Barricada na rua Soufflot a 24 de Junho de 1848'-óleo sobre tela


Édouard Léon Cortès (1882-1969)-'Praça de S. Miguel com Notre Dame'-óleo sobre tela


Édouard Léon Cortès (1882-1969)-'Panteão'-óleo sobre tela 


Antoine Blanchard (1910-1988)-'Praça do Luxemburgo e Panteão'-óleo sobre tela colecção particular

23.4.10

Cum dignitate otium (descanso com dignidade) (Marcus Tullius Cicero; Oratio pro Publius Sextius, XLV)

As crianças já se divertiram de modo saudável ao ar livre, a correr e participar em jogos que, por vezes, elas próprias criavam. De quando em vez sentavam-se para jogos de tipo recreativo em casa ou nas associações juvenis. Presentemente permanecem frente a jogos virtuais, pouco convivem, desperdiçam tempo e saúde.
Os adultos praticavam jogos fora de casa e ocasionalmente alguns sedentários. Actualmente  vão ver  jogar os profissionais da indústria desportiva.
Os seres humanos tornaram-se, nos dias de hoje, escravos das máquinas e do marketing que as promove.  


Pieter Brueghel, velho (ca 1525-1569)-'Jogos de criança'-óleo sobre tela-1560 Wien-Kunsthistorisches Museum (Gemäldegalerie)


David Teniers, o jovem (1610-1690)-'camponeses jogam petanca'-óleo sobre tela-1640  St. Petersburg-Hermitage


David Teniers, o jovem (1610-1690)-'Jogadores de cartas'-óleo sobre tela-1645 St. Petersburg-Hermitage


Albert Anker (1831-1910)-'Menina brinca com pedras do dominó'-óleo sobre madeira-(1850-1900)  Zürich-Privatsammlung

22.4.10

Naufrágios

Por naufrágio entende-se a situação de perda de embarcações de todo o tipo motivada por causas diversas: péssimas condições meteorológicas, como tempestades; colisão entre barcos, com icebergues, com recifes, com torpedos; erros de navegação; excesso de passageiros. Odisseus escapou ao naufrágio do seu barco depois do episódio da vacas do Sol. A fragata Meduse encalhou num banco de areia em frente da Mauritânia e entre os sobreviventes houve casos de antropofagia; o Lusitânia foi torpedeado; o Titanic chocou com um icebergue.
A história Trágico-Marítima é uma relação de naufrágios compilada por Bernardo Gomes de Brito (séc. XVIII) ocorridos na Carreira da Índia. Estes factos levaram Fernando Pessoa a escrever o poema Mar Português «Ó mar salgado, quanto do teu sal / são lágrimas de Portugal! / Por te cruzarmos, quantas mães choraram»


Théodore Géricault (1791-1824)-'Jangada da Medusa'-óleo sobre tela-(1818-1819)  Paris-Musée du Louvre


Claude Joseph Vernet (1714-1789)-'Naufrágio'-óleo sobre tela-1759  Bruges-Groeninge Museum


Claude Joseph Vernet (1714-1789)-'Naufrágio na tempestade'-óleo sobre tela-1754 London-Wallace collection


Joseph Mallord William Turner (1775-1851)-'Naufrágio'-óleo sobre tela-1805 London-Tate Gallery

21.4.10

Mulheres ao espelho

Na mitologia grega Narciso apaixonou-se por si próprio ao ver-se reflectido na água de um regato. Terá assim surgido a ideia da criação do espelho. Os arqueólogos escavaram espelho de metais bem polidos para reflectir as imagens: primeiro de cobre e depois de prata. Aconteceu da Grécia à Etrúria.
Diz-se que as mulheres são as maiores utilizadoras porque gostam de agradar aos homens e fazer inveja às outras. Por mim concordo igualmente com o poeta irlandês William Butler Yeats (1865-1939) (A woman young and old, II) «Se a um espelho e depois a outro, / pergunto se tudo vai bem / não é por vaidade: / procuro o rosto que tinha / antes do mundo o transformar».


Anónimo-'Eros segura o espelho onde a deusa Afrodite se mira'-fresco  Ostia Antica-Terme dei sette sapiente


Pintor da centauromaquia do Louvre-'Mulher segura espelho'-pyxis ática-figuras vermelhas-ca 430 aC  Paris-Musée du Louvre (CA 587)


Pieter Paul Rubens (1577-1640)-'Vénus ao espelho'-óleo sobre madeira-(1614-1615)  Vaduz-Fürstlich Liechtensteinische Gemäldegalerie


Diego Rodriguez de Silva y Velázquez (1599-1660)-'Vénus ao espelho'-óleo sobre tela- (1647-1651)  London-National Gallery


Frans van Mieris, velho (1635-1681)-'Mulher ao espelho'-óleo sobre madeira- ca 1670  München-Alte Pinakothek

20.4.10

Morte de Cleópatra VII, Filopator (69-Agosto 30 aC)

Governou com seu irmão Ptolomeu XII. Vivia com Marco António em Alexandria quando Octávio, futuro Imperador Augusto, chegou vitorioso à cidade. Receou  que Octávio a levasse como espólio de guerra e a exibisse em Roma durante o seu triunfo. Entre as várias versões, aquela que os pintores mais exploraram, a de se ter feito picar por réptil venenoso das espécies Vipera aspis ou Naja haja.
Este tipo de veneno contem toxinas e enzimas. A enzima fosfolipase A2 actua sobre as membranas celulares, nomeadamente as sanguíneas, e provoca a sua ruptura. Facilita a entrada das toxinas e ambas promovem hemorragia massiva.


Guido Reni (1575-1642)-'Cleópatra com a víbora'-óleo sobre tela-ca 1630  Windor-Royal Collection


Artemisia Gentileschi (1597-1651)-'Cleópatra e a víbora'-óleo sobre tela-(1621-1622)  Milano-colecção particular (Amedeo Morrandotti)


Guido Cagnacci (1601-1663)-'Morte de Cleópatra'-óleo sobre tela-1652  Wien-Kunsthistorisches Museum (Gemäldegalerie)


Gyula Benczur (1844-1920)-'Morte de Cleópatra'-óleo sobre tela-1911  Debrecen (Hungria)-Déri Múzeum

19.4.10

Travessia do Rubicão em 49 aC (Alea jacta est ou está decidido aceitar o risco)

Os sistemas políticos não são perfeitos, menos ainda os homens que os servem ou deles se servem. Os demagogos prometem o regresso ao paraíso perdido, mas a realidade não é construída por eles, simples joguetes de acaso.
Roma organizou-se como sistema político, administrativo, mas sobretudo militar. As suas conquistas trouxeram territórios e bens a uma região de solo vulcânico apenas fértil em água.
Ao conquistar a Gália Cisalpina, Caio Júlio César (100-49 aC) ganhou fama junto do povo e ódio no Senado duma república apodrecida. Os tribunos da plebe Marco António e Quinto Cúrcio vetaram no Senado a proposta de Metelo Cipião  onde se exigia que em Março de 49 aC César deixasse o comando da Gália ou tornar-se-ia inimigo público. Devido a posterior Senatus Consultum os citados tribunos viram-se constrangidos a abandonar a cidade. César seguro que seria aniquilado politicamente se regressa-se sozinho tomou a decisão de, com as legiões do seu comando, ultrapassar o limite da sua jurisdição: o rio Rubicão a 12 de Janeiro de 49 aC. A célebre frase que teria proferido perante os companheiros de armas tornou-se símbolo da ambição de vencer qualquer desafio, decisão sem regresso. Depois do seu assassinato, nesse mesmo ano, o seu nome perpetuou-se como representação do poder concentrado no Príncipe e foi deificado. 


Jean Fouquet (ca 1420-ca 1480)-'César atravessa o Rubicão'-iluminura   Paris-Musée du Louvre


Jean-Léon Gérôme (1824-1904)-'César atravessa o Rubicão'-escultura   Ottawa-National Gallery of Canada


Anónimo-'César atravessa o Rubicão'-gravura in Eva March Tappan (1854-1930); The first old world hero stories. Emperor of Rome, pg. 102 


Virgil Solis (1514-1562)-'Deificação de Júlio César'-gravura in Ovídio; Metamorfoses, XV, 745-850